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Diário de Bordo

Olá Pessoal,

Essa coluna vai relatar as nossas pequenas viagens por aí, com algumas dicas importantes.


Decidimos viajar pra Santo Augusto/RS, terra natal do Eucárdio. Aproveitando a proximidade com São Miguel da Missões, cidade histórica que ainda conserva as ruínas do que foram as reduções jesuíticas, parte do povoado dos Sete Povos das Missões, fomos lá pra rememorar essa parte da história.


Eu vou contar tudo mais adiante, mas primeiro vou falar da nossa viagem, uma pequena aventura, pois quando não se conhece o caminho, a primeira providência é comprar um mapa, né?


Saímos de Foz do Iguaçu/PR às 06:30h e entramos na Argentina de boa. A gente não tinha mapa, acostumados com google maps, waze e GPS. Alôuuuuuu.... Na Argentina não pega nada disso! E aí... tivemos que andar uns bons quilômetros pra descolar um mapa impresso. Primeira mancada... fomos comprar o mapa... 240 pesos... câmbio do dia = 20 reais


Ir para o RS atravessando a Argentina

Seguimos viagem. Estrada estreita, sem placas, sinalização precária. Íamos adivinhando os caminhos. As placas dos lugarejos, quando existiam, eram uma só e olhe lá. Uma placa e dez outras sinalizando outras cidades, uma pra cada direção. Pandemônio.


Tínhamos que entrar em Alcácer, ou El Alcácer, mas que ninguém fala o El. Só que não tem placa, galera... outro alozinho aí. Estrada sem sinalização e, quando indica alguma coisa, nunca é o que a gente procura. Passamos direto da entrada de Alcácer e rodamos bem uns 15 km até nos darmos conta que o caminho ficava cada vez mais estranho e deserto.


Por sorte, vimos um caminhão parado. Indaguei ao motorista sobre a localização de Alcácer e ele nos indicou que teríamos que voltar. Voltar como? Fazendo o balão na estrada, é mole? Na Argentina pode. Adelante, em direção ao povoado de 25 de mayo. Olha só o Maraca deles, achei bem original.


Olha o Maraca argentino! Com boleteria...

E a estrada alarga pra uma tercera trocha, que é uma terceira pista que termina a todo momento. Então, vimos mais de 10 sinalizações de inizio de terceira trocha e fin de terceira trocha. Alarga, estreita, alarga, estreita, um perigo.


Terceira trocha – inizio e fin o tempo tudo

Lomo de burro = lombada

Lomo de burro é lombada, gente! E a gente seguindo em frente, pintou a primeira blitz, logo de cara, tivemos que parar. Estávamos com os faróis desligados. Mesmo na ruta provincial é obrigatório o farol baixo. E na ruta nacional, a multa é mais cara... Segunda mancada. Resultado: multa de 2.400.000 pesos, tendo que pagar no dia, antes de sair do país. Tínhamos levado apenas 1.000 pesos para a passagem da balsa e alguma eventualidade... Tem pague fácil, mas não tem câmbio. Sorte que encontramos um brasileiro que aceitou o pagamento em reais. Prejuízo de 175 pilas. Mesmo sem nenhuma sinalização, fomos multados pelos hermanos. Dureza, viu...


A escuela é lá no portãozinho.... bem humilde...

Seguimos por alguns lugarejos até chegar em Alba Posse, limite argentino. Do outro lado, Rio Grande do Sul, Porto Mauá. Tem que atravessar de barca. Atenção: chegar até 11:30h, porque fecha e só reabre às 14:00h. Como ficamos parados um tempão na multa, atrasamos quase uma hora.


Casa bem simpática....

Resultado? Ficar parado em um trecho onde no hay nada para beber, nem para comer.... Só tínhamos maçãs e biscoito de polvilho... O suficiente para compartilhar com um amiguinho, um amor de bichinho, todo delicado...


O cãozinho mais delicado que já conheci na vida

Casa de duende argentino

Então, atravessamos de barca o Rio Uruguay. Só aceitam pesos argentinos. Não tem Banco, não tem casa de câmbio. É bom levar 400 pesos só para a travessia, pra 2 pessoas. O carro também paga.


Entramos de carro na barca

É uma travessia rápida, acho que não passa de 15 minutos

Até então estava calor.... saímos de Foz com 40 graus no dia anterior. No RS véio, fazia 4 graus. O Sul maravilha.

Olha só: a gente pode ser universal. A gente pode ser do mundo. Mas a sensação de pisar de novo em terras brasileiros nos deu um alívio descomunal. Foi ótimo. A vegetação muda. Enquanto que na Argentina só vimos cultura de madeira de reflorestamento, com madeireiras muito primitivas e pobres, com ausência de civilização, o interior do RS é deslumbrante.


Pinheiros....

Ficamos extasiados com a beleza e a florada dos ipês amarelos, que margeiam toda a estrada. É lindo.


Ipês amarelos em sua florada de primavera! Lindos, verdadeiramente lindos!

Então, o deslumbramento.... hectares e mais hectares de lavoura de trigo, de aveia, de sorgo para o gado..... quilômetros e mais quilômetros de plantações, maior do que o mar, que o infinito!


Trigo mais lindo!

Chegamos, enfim, a São Miguel das Missões. Espetáculo lindo, cheio de surpresas de luz e sons. Quem quiser saber mais sobre essa história, veja o filme de produção britânica, de 1986, chamado A Missão. O contexto histórico é a Guerra Guaranítica, que aconteceu entre 1750 e 1756.


Tivemos a oportunidade de assistir, naquela mesma noite da chegada, depois de tantas aventuras, ao espetáculo Som e Luz, criado em 1978, pelo governo do RS, roteiro de texto e roteiro de Henrique Grazziotin Gazzana e com as vozes de Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Paulo Gracindo, Juca de Oliveira, Rolando Boldrin, Maria Fernanda e Armando Bógus, um show, uma experiência inesquecível e impactante.


Assim, a história é contada pelos nativos, desde o nascimento, o desenvolvimento e o fim da experiência Jesuítico-Guarani, no Sítio Histórico São Miguel Arcanjo, declarado pela UNESCO Patrimônio da Humanidade. É a experiência missioneira que faz o relato da igreja e da terra, que faz a gente viajar no tempo, com o cotidiano, a política, a arte, a guerra e a fé de uma sociedade que vivenciou um desenvolvimento harmonioso, baseado em relações sociais cooperativas.



Com o Tratado de Madrid, os índios guaranis da região dos Sete Povos das Missões se recusaram a deixar suas terras e transferir-se do RS para o outro lado do Rio Uruguai, de acordo com os novos limites estabelecidos entre Portugal e Espanha, com o referido Tratado. Com a nova soberania do Império Português, os territórios da missões jesuíticas passaram a permitir a escravização dos indígenas, que até então, eram apenas súditos do rei de Espanha. Esse foi um fenômeno raro na história, a dominação sem a escravatura. Nessa região, deu-se a observação e o convívio da vida indígena, com o aprendizado milenar de índios egressos da pré-história em plena floresta subtropical.


Entretanto, com a expulsão dos jesuítas e a expulsão do índios, estes, liderados por Sepé Tiarajú, passam a guerrear na defesa de suas terras. Mas, derrotados, antes de abandonarem a redução, ateiam fogo às suas casas, ao seu povoado e ao Colégio. O Tratado de Madri foi anulado pelo Tratado de El Pardo em 1761, permitindo aos índios retornarem às suas terras até a definitiva expulsão dos jesuítas dos domínios espanhóis, decretada por Carlos III, rei da Espanha.



Na literatura, somente Basílio da Gama relata esse momento histórico por meio do poema Uraguai (era assim que se chamava o Rio Uruguai naquela época). É um poema épico, de 1769, fazendo uma drástica crítica aos jesuítas, que foram seus mestres, alegando serem eles os defensores dos direitos dos índios por serem eles os seus senhores. Como obra encomendada pelo Marques de Pombal, que queria a expulsão dos jesuítas, o Uraguai exalta os feitos do General Gomes Freire de Andrade, e é dedicado ao irmão do Marquês, seu antigo protetor.


Mais informações em:


BRUXEL, Arnaldo. Os trinta povos Guaranis. Porto Alegre: EST, Nova Dimensão, 1987.

FLECK, Eliane Cristina Deckmann. A educação jesuítica nos Sete Povos das Missões (séculos 17–18). Em Aberto, Brasília, v. 21, n. 78, p. 109-120, dez. 2007.

HAUBERT, Maxime. A vida cotidiana: índios e jesuítas no tempo das Missões. São Paulo: Cia. das Letras, 1990.

HERNÁNDEZ, Pablo, SJ. Organización social de las doctrinas guaraníes de la Compañia de Jesus. Barcelona: Gustavo Gili Editores, 1913.

JAEGER, Luís Gonzaga, SJ. Índios riograndenses civilizados pelos antigos jesuítas. In: ENCICLOPÉDIA DO RIO GRANDE DO SUL. Porto Alegre: Sulina, 1968. v. 1.

KERN, Arno Alvarez. Missões: uma utopia política. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.

LOYOLA, Inácio de. Constituições da Companhia de Jesus. Lisboa: [s.n.], 1975.

MELIÀ, Bartomeu; NAGEL, Liane Maria. Guaraníes y jesuitas en tiempo de las Misiones: una bibliografía didáctica. Santo Ângelo: URI, Centro de Cultura Missioneira; Asunción: Cepag, 1995.

NEUMANN, Eduardo. O trabalho guarani missioneiro no Rio da Prata colonial (1640-1750). Porto Alegre: Martins Livreiro, 1996.


De lá fomos pra Santo Augusto/RS, terra natal do Eucárdio


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